Academia 14.03.2023 15H29
ChatGPT e questões éticas marcam debate sobre papel da inteligência artificial na comunicação
A jornalista do Público, Karla Pequenino, o co-fundador e diretor do Shifter, João Ribeiro, o CEO da Agentifai, Rui Lopes, e Jorge Mateus, investigador de doutoramento no Centro de Ética, Política e Sociedade da Universidade do Minho, estiveram nas Jornadas da Comunicação.
A inteligência artificial pode ter um papel fulcral na comunicação, mas o fator humano não deve ser desvalorizado. Essa foi uma das ideias exploradas, esta terça-feira, no painel de abertura das Jornadas da Comunicação da Universidade do Minho, que teve lugar no Campus de Gualtar, em Braga.
Karla Pequenino, do Público, fala da capacidade que uma ferramenta como o ChatGPT tem para ajudar a escrever uma notícia simples, dando o exemplo da meteorologia, permitindo aos jornalistas “ganhar tempo” para falar com especialistas sobre a matéria. Ainda assim, ressalta a necessidade de haver “controlo humano”. “Em vez de a questão ser «Qual vai ser o impacto da inteligência artificial?», deve ser «Qual é que eu quero que seja o impacto da inteligência artificial?». Devemos pensar como queremos utilizar as ferramentas”, refere.
Uma das soluções apontadas passa pela regulação. O CEO da Agentifai, startup de Braga especializada na inteligência artificial, considera que “as questões éticas são super importantes” e que os Estados têm “responsabilidade” nessa matéria. Rui Lopes recorda o caso Cambridge Analytica - a Meta, empresa detentora do Facebook, Instagram e Whatsapp, foi acusada de ter acesso a dados dos utilizadores das redes sociais do grupo, sem o seu consentimento - como um fenómeno capaz de “colocar em causa o sistema democrático”.
Outro dos assuntos debatidos foi a forma como a inteligência artificial pode ‘roubar’ empregos aos seres humanos. Recusando-se a fazer um diagnóstico fechado sobre o assunto, o co-fundador e diretor do Shifter aponta para “um padrão muito engraçado que se tornou quase anedótico”.
“Sempre que há um avanço que seja relevante, surge alguém a dizer que daqui a 20 anos a inteligência artificial vai conseguir ultrapassar o ser humano. Depois passam os 20 anos, percebe-se que não e volta tudo ao mesmo. É sempre a mesma conversa e isto já se repete desde os anos 50”, ilustra João Ribeiro.
Noutra perspetiva Jorge Mateus, investigador de doutoramento no Centro de Ética, Política e Sociedade da Universidade do Minho, diz que “não é boa ideia humanizar demasiado a tecnologia”. Recorrendo novamente ao ChatGPT e olhando para o seu papel na transcrição/tradução, em que é “possível ir vendo as frases a aparecerem de forma progressiva, quase linha a linha, como fosse uma conversação”, compara-o com tradutores tradicionais, em que o texto aparece “automaticamente”.
“Acho que há perigos aqui nesta humanização ou antropomorfização da tecnologia, não apenas do chat, mas dos robôs sociais, como os robôs sexuais”, afirmou, presente no painel ‘A inteligência artificial na comunicação’.