Regional 06.06.2025 12H36
Vamos refletir sobre o tempo que passamos online no telemóvel?
Quatro psicólogos abordaram a temática junto de estudantes, professores e pais de duas escolas secundárias de Braga.
Refletir sobre o tempo que passamos online no telemóvel pode ser o primeiro passo para alterarmos comportamentos menos benéficos para a nossa saúde e para a nossa vida familiar e social. Esta é uma das mensagens que quatro psicólogos de ULS de Braga, Médio Ave, Barcelos e Esposende lançam esta semana na RUM.
A questão foi abordada na sequência de um estudo realizado por estes profissionais em duas escolas secundárias de Braga [Carlos Amarante e Dona Maria II] tendo como ponto de partida o uso problemático da internet.
Alunos, pais e professores reconhecem que passam demasiado tempo online no telefone assumindo que a regulamentação externa pode contribuir para um comportamento diferente. Os filhos alertam que os seus comportamentos se sucedem também pelo exemplo dos próprios pais. Já os pais não fogem propriamente à responsabilidade, admitem uma utilização abusiva que muitas vezes é considerada um "refúgio" nomeadamente para descansar.
Sublinhe-se que o uso excessivo da internet e de dispositivos móveis por jovens e pais pode ter impactos negativos na saúde física, mental e social, bem como na rotina diária. A dependência digital pode levar a problemas como ansiedade, depressão, dificuldades de concentração, isolamento social e até mesmo dependência.
Armando Pinho, psicólogo da ULS de Braga admite que é importante cada um estar mais atento a si e aos que o rodeiam sendo este um primeiro passo para a alteração de rotinas que já estão estabelecidas em casa, na escola e socialmente. Segundo o especialista, "as pessoas que têm mais reflexão crítica sobre os seus comportamentos e o seu impacto, de alguma forma conseguem intervir de uma forma mais preventiva e evitar os problemas". O estudo pretendeu "precisamente aumentar a consciência destas pessoas sobre os seus comportamentos quotidianos que às vezes não valorizamos". Para quem tem filhos adolescentes, o psicólogo pede "mais atenção a pequenos sinais que possam começar a evidenciar-se nos filhos". "Estar muito fechado no quarto, deixar de falar tanto. Isso às vezes na adolescência parece comum, mas neste caso com caraterísticas mais graves", alerta. E nos casos mais graves que pais, professores ou filhos possam identificar, é importante pedir ajuda.
Nessa situação, explica Sílvia Lopes, também psicóloga na ULS de Braga, convém "procurar ajuda de um profissional, quer ao nível do centro de saúde, quer ao nível do ICAD (Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências) se for já um comportamento de dependência". A psicóloga sugere até as estatísticas que os telemóveis disponibilizam relacionadas com o tempo que o utilizador dedica a cada área como uma ferramenta que "é uma boa estratégia de autoreflexão". "Se fôssemos ver também nos preocuparíamos. É importante passar tempo offline, estarmos com amigos, conversarmos, sabermos das pessoas. Termos alternativas e coisas estimulantes e interessantes [para fazer]", sugere.
Ana Trovisqueira, psicóloga da ULS do Médio Ave recorda a divisão normal de um dia para deixar outra mensagem. Notando que o dia tem 24 horas, oito horas para dormir, oito horas para trabalho e sobram oito. Reflitamos um bocadinho o que é que está a acontecer às outras oito. Muitas pessoas gastam cinco destas oito horas na internet. Portanto, rever em que é que podemos aplicar aquelas oito", aconselha.
Estar offline faz "cada vez mais sentido", explica Márcia Barbosa. A psicóloga da ULS Esposende/Barcelos dá o exemplo de um recente fórum europeu em que alguns jovens falaram sobre a temática com os próprios a sugerir "o direito a estar offline". "A verdade é que estão sempre a chamá-los para o online e às vezes é preciso estar offline", reafirma.
Os dados do estudo exploratório são apresentados esta sexta-feira, numa sessão comunitária que vai decorrer ao longo de todo o dia no Centro de Juventude de Braga.
A entrevista completa destes especialistas ao Campus Verbal pode ser escutada em podcast.